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...porque o basquete é duro e a bola de voleibol é mole.

sexta-feira, novembro 11, 2005

O que vier

-E agora?

Desculpe-me por atrapalhar o recém-postado do Méfius. Acontece que vi algo que gostaria muito de compartilhar com vocês. De qualquer forma, não deixem de dar uma olhada no outro post do Matheus...

Ouvi um barulho; algum rádio ou algo do gênero. Fui à janela.

Pude ver; roupas sujas, um tanto rasgadas, um boné maltratado, chinelos. Carregava, em uma só mão, ao mesmo tempo uma sacola plástica amarela e uma pequena marmita que, à medida que ia em direção à w3, ia comendo calmamente. Passos curtos e calmos, não seguiam uma linha reta de alguém que deseja chegar: caminhava quase sem destino como quem não tem para onde ir. Não pude ver seu rosto; já havia passado. Mas, caso sua expressão fosse realmente uma extensão da forma que se portava, posso imaginar. Um ligeiro sorriso, vitorioso, de quem conseguiu um prato de comida em alguma casa da rua; traz, certamente, marcado nas pregas que seus lábios, contentes e satisfeitos, fazem no canto de sua boca, a satisfação em ser atendido por alguma dona de casa, agora oculta pelos muros de sua casa, a ofertar-lhe um pouco de arroz, feijão, talvez uma lasca de uma carne qualquer.

Por apenas alguns segundos fitei-o, de costas, a seguir seu rumo portando o troféu que lhe parecia ser simplesmente delicioso. Mas no pouco tempo que pude imaginar tudo o que sente, finalmente entendo o que ouvia em um pequeno rádio de pilha, oculto dentro de sua sacola amarela. "Quem acredita sempre alcança", repetia Renato Russo em um refrão que outrora poderia significar tantas outras situações; promoção no emprego, vitória em algum campeonato regional ou certo amor adolescente e despreocupado. Mas não. Agora toma livremente a melodia e imprime-lhe algo muito mais simples: um almoço.

Talvez tenha perambulado por toda a asa sul em busca de sua bondosa dona de casa, talvez tenha conseguido sua refeição ao primeiro toque de campainha; não importa: agora segue, passos curtos portadores de uma dignidade que jamais entenderei plenamente, rumo a algo. O que vier.

Os senhores tirem suas próprias conclusões.